
— Ruiva aventureira, conta-nos tudo! — empolgou-se a Mariposa Rosa.
Em silêncio, atentos, ouviram a Íris.
— Imaginei que conseguia espreitar para dentro do arco-íris se encontrasse uma das suas pontas — começou por dizer. — Estudei-o, e à meteorologia também. Percebi que, da casa da árvore, aquela que construí com ajuda da Mila, conseguia ver o fim do arco-íris. Mas foi ainda melhor do que eu esperava! O arco-íris terminava mesmo ali, na árvore mais antiga e forte da floresta. Foi como se estivesse a estender-me um convite para entrar, como se soubesse do meu sonho. Tremi, arrepiada e empolgada. Enchi-me de coragem e mergulhei pelas cores adentro.
— Desapareceste junto com o arco-íris — lembrou, triste, o Flamingo Pingo. — Tivemos medo, muito medo. E agora, que pouco chove, poderias nunca mais aparecer!
— Para onde foste? — interrompeu a Gazela Estela, com os olhos arregalados pela curiosidade.
— Para todos os cantos do mundo. Perdi a conta aos lugares que espreitei! O arco-íris desaparecia de um lugar e nascia noutro. Trago no meu coração as montanhas altas, os grandes lagos, a neve, o gelo e as casinhas dele feitas – os incríveis iglus. Apaixonei-me pelos pinguins, com as costas e a cabeça de cor preta e o peito branco, tão desajeitados a andar e tão sublimes a nadar. Fascinei-me com a grandiosidade das orcas e com o bailado dos golfinhos em mar aberto. Conheci as pirâmides do Egito e os cangurus da Austrália. Vi também pessoas, muitas pessoas. Umas altas, outras baixas, de pesos e cores diferentes, com cabelos negros como corvos ou claros como pintos. Vi culturas com hábitos e costumes muito diferentes. Espreitei pessoas que comem com as mãos, pessoas que comem com uns pauzinhos que se chamam Hashi, e pessoas que não têm o que comer. Vi pessoas com muita, pouca ou nenhuma roupa no corpo. Pessoas tristes, pessoas felizes, pessoas confusas, pessoas corajosas. Gente em paz, gente em guerra. A guerra é um lugar muito diferente do abraço da Mila… é um lugar cheio de frio e de tristeza. E os oceanos, em aflição, mergulhados em plástico, choravam como eu. Temos de salvar a água! É urgente que o céu deixe cair chuva, salvando o planeta da seca, protegendo o arco-íris da extinção.
A Íris fechou os olhos, angustiada e preocupada. Abraçados, os amigos olhavam-na, perplexos.
— Vi a falta que faz o amor, a amizade, a água e a paz. Quando desci do arco-íris, tive a certeza de que o falado tesouro, que ele guarda no seu final, é a minha casa na árvore. E a minha casa na árvore são vocês. A amizade é o tesouro guardado no final do arco-íris. E, juntos, vamos devolver as cores ao mundo.